ABSURDO EM TAIWAN para que tem coração forte

05-01-2011 17:13

 

Lenda de Taiwan  Em Taiwan, fetos de bebês e cérebros humanos são finos acepipes: é tudo mentira
 

A mensagem mencionando suposto ato de canibalismo ocorrido em Taiwan surgiu no primeiro semestre de 2001. Por tratar de temas muito delicados como a antropofagia, bebês e aborto o conteúdo dela chocou muita gente, criou uma certa comoção e a mensagem rapidamente se espalhou mundo a fora.

Como na maioria das lendas, nesta também co-existem dois fatores: o preconceito e a falta de bom senso. Na verdade um só: falta de bom senso para avaliar da forma correta as informações recebidas, pois preconceito está associado à falta de bom senso.

    Ao mesmo tempo em que essa história corria o mundo, circulava matéria publicada pela revista Marie Claire americana (junho de 2001) mostrando o cadáver de criança em rua de cidade chinesa. (Veja Terror na China e O bebê que não podemos ignorar).

    Circularam também duas outras mensagens: uma tratando de ursos mantidos em cativeiro para extração de substância usada na fabricação de perfumes e outra sobre o hábito de alguns coreanos comerem carne de cachorro. (Veja 
    Salve o são bernardo)

    Talvez essa mistura tenha criado um clima favorável para as pessoas acreditarem em coisas mais esquisitas ainda: o suposto canibalismo de Taiwan.

    O fato é que o canibalismo, a antropofagia não acontece nem na China, nem em Taiwan. É tudo fruto da imaginação de gente desocupada. De qualquer forma, algumas pessoas podem achar as imagens chocantes de mais. Se for o seu caso, se você é uma pessoa sensível, o melhor é parar por aqui e procurar coisa melhor pra fazer. (
    Clique aqui
     pra ver coisa mais interessante: imagens do carnaval de Olinda.)

    Muita gente acredita nas fotos mostradas e acha que elas são verdadeiras sem se dar ao trabalho de pensar um pouco. Afinal de contas, muitos ponderam, isso acontece na China, lugar de gente estranha e de hábitos e costumes bem diferentes dos nossos. Será que acreditariam assim, de primeira, se as fotos mostrassem uma pessoa com traços ocidentais? Vamos imaginar que a mensagem falasse dessas coisas horrendas acontecendo, digamos, no Rio de Janeiro. Seria a mesma coisa?

    O FBI e a Scotland Yard, que se metem em tudo mesmo no que não é da conta deles, andaram investigando o assunto e identificaram a pessoa da foto: é um artista (!) chinês de nome Zhu Yu nascido em 1970. As fotos em que Zhu Yu aparece comendo algo parecido com um feto foram feitas em Xangai, China, em novembro de 2000, durante a Bienal de Xangai, um festival de artes. O "espetáculo de vanguarda" (!?) se chamava Comendo Gente (ou Comendo Pessoas, como preferir).

As fotos do suposto feto humano foram feitas com a justaposição de uma cabeça de boneca à carcaça de um animal. Veja que o artista (!) sempre tem o cuidado de segurar a cabeça da boneca talvez para evitar que ela caia na pia ou na mesa.

    Houve bastante cuidado na produção do espetáculo e das fotos. Os potes contendo cérebros, estocados na prateleira do supermercado, são convincentes, mas, certamente, são nozes. Ao preparar o cérebro, Zhu Yu usa luvas e, no momento do repasto, o clímax do espetáculo, tiveram até o cuidado de colocar um copo de suco.

Leonardo, um dos nossos colaboradores, nos informa:

"...pedi para um chinês que trabalha aqui na empresa traduzir o rótulo dos vidros de "cérebros" e ele confirmou que não são nozes. São cérebros mesmo,..."

     

    Você, que já deu uma olhadinha nas fotos, percebeu o ar tranquilo do Zhu Yu ao saborear o coelho ou o pato com cabeça de boneca?

    Afora o absurdo da situação descrita na mensagem, há a frase-chave presente em todas as pulhas: "Por favor, repasse essa mensagem para quantas pessoas puder" para ver se alguém toma alguma providência, completa o texto.

    Não há providência nenhuma a tomar porque o relato é falso, quer dizer, o espetáculo existiu, mas não o canibalismo nem a antropofagia.

    Pra quem não usa o bom senso, acredita em tudo o que aparece pela frente e exige um desmentido oficial, veja, mais uma vez, a página
    Gobierno de la República ...

    Os orientais têm uma maneira diferente da nossa de ver o mundo e as coisas. Isto não significa, no entanto, que tais diferenças cheguem a extremos. De qualquer forma, vale a pena ler o artigo intitulado 
    How to Deal with Rights - A Criticism of the Violent Trend in Chinese Contemporary Art. Algumas das obras de arte (!) mostradas nesse artigo são desagradáveis, chocantes e, em minha modesta opinião, de péssimo gosto. (Veja também Table of Contents Experimental Art and Experimental Exhibitions: Minutes from a Roundtable Discussion on Exhibitions and Curatorship
     )

    Uma das versões atribui aos tailandeses o 'hábito' de comer fetos de crianças.

    Alessandro, um leitor atento, nos envia 
    mensagem alertando para um aspecto que ninguém percebeu. Diz ele:

Na verdade, existe uma maneira muito mais simples de verificar que a mensagem é inverossímil, puramente baseado em poucos conhecimentos de cultura oriental.

A verdade é que orientais, sobretudo japoneses, chineses, coreanos e afins não levam alimentos à boca utilizando as mãos. Ou seja, para que o homem da foto pudesse comer mais tranquilamente o feto, ele deveria ter sido preparado em cubinhos, para que pudesse ser comido com os hashis, que são os dois palitinhos que os orientais usam como talheres.

E se formos mais observadores, poderemos ver dois desses "talheres" apoiados no prato do rapaz, enquanto ele come o "feto". É claro que se o "feto" tivesse sido preparado da forma oriental, o impacto das imagens não seria tão impressionante.

     

    Já que você chegou até este ponto, clique aqui para ver as imagens ampliadas.

No supermercado Cérebros no supermercado
Prepara o cérebro
Prepara o feto
Travessa
Repasto

    Texto que acompanha as imagens.


EDUARDO